Não ia ser um dia comum. Em 9 de novembro de 1989, o governo da RDA (República Democrática Alemã, oriental, comunista) se preparava para anunciar a nova legislação que permitiria viagens para o lado ocidental. Um sonho antigo dos moradores da Alemanha oriental programado pelo governo comunista para começar no dia seguinte.
Ainda no dia 9, durante uma entrevista coletiva transmitida ao vivo no horário nobre da televisão, o porta-voz da Alemanha Oriental, Günter Schabowski (imagem ao lado), anuncia a permissão das visitas ao ocidente. Mas ficou a dúvida. "Quando isso entra em vigor?", perguntou um jornalista italiano.
A mudança passaria a valer no dia 10 de novembro, mas, naquela tensão, um Schabowski atrapalhado, inseguro, acaba respondendo: "Pelo o que eu sei... a medida entra em vigor imediatamente". E foi imediatamente que os berlinenses orientais e ocidentais tomaram as ruas da cidade.
Numa revolução pacífica, sem derramamento de sangue, alemães orientais exibiam seus passaportes e cruzavam legalmente para o lado capitalista. Alguns manifestantes levaram martelos e marretas para pôr o muro fisicamente abaixo.
O começo do fim
Naquela noite de 9 de novembro de 1989, o povo derrubou o muro e começou a enterrar a Guerra Fria. O muro era um dos maiores símbolos do conflito que dividiu o planeta entre os vencedores da Segunda Guerra Mundial: de um lado os capitalistas - liderados pelos Estados Unidos - e, de outro, os socialistas ou comunistas - liderados pela União Soviética.
Quando veio abaixo o muro, a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) - com influência sobre a Alemanha Oriental - tentava contornar a grave crise econômica e social por meio de dois programas: a Perestroika (reestruturação econômica) e a Glasnost (reforma política).
Com a Glasnost, o governo soviético de Mikhail Gorbachev permitiu a abertura das fronteiras da Rússia, dos países satélites e do Leste Europeu e ampliou a liberdade política dos cidadãos.
Na Alemanha Oriental, no entanto, o presidente Erich Honecker resistia a reformas. Quando o governo socialista da Hungria abriu a fronteira com a Áustria, meses antes da queda do muro, muitos alemães orientais fugiram do país por este caminho, recorrendo à embaixada da RFA (República Federal Alemã, ocidental, capitalista) em Viena para pedir asilo. O comunismo europeu começava a se esfacelar.
Debaixo de pressão das recorrentes manifestações populares que tomavam a Alemanha Oriental ao longo de 1989, o linha-dura Honecker deixou o poder em outubro daquele ano, depois de 18 anos no poder. Ele foi substituído pelo reformista Egon Krenz, que assinou a lei das viagens ao ocidente e renunciou 47 dias depois de assumir a liderança da Alemanha Oriental, junto com os outros membros do Politburo (órgão de maior poder dentro do Partido Comunista soviético).
Mapa mostra como era a divisão da Alemanha e da capital Berlim durante a Guerra Fria
O Muro de Berlim começou a ser construído em 13 de agosto de 1961. A justificativa oficial era a necessidade de separar "passado e futuro" para proteger a revolução comunista, mas, na realidade, o problema era a fuga de pessoas da Alemanha Oriental para a Ocidental. Calcula-se que, na época, o número diário de fugas chegava a 2.000.
O muro tinha 155 km de extensão, uma faixa de 100 metros com trincheiras e armadilhas antitanques a partir da borda que dividia os dois lados de Berlim - conhecido como "faixa da morte". Era vigiado por homens armados 24 horas por dia e contava com 300 torres de observação.
A barreira interrompia oito linhas de trens, quatro de metrô e 193 ruas e avenidas. Atravessava também 24 quilômetros de rios e 30 de bosques.
Durante seus 28 anos em pé, pelo menos 136 pessoas morreram tentando cruzar o muro para o lado de Berlim Ocidental.
Superprodução recria Muro de Berlim em detalhes; veja vídeo
Como era o Muro de Berlim de verdade? A animação produzida pela Deutsche Welle responde a essa pergunta com riqueza de detalhes. Uma câmera subjetiva viaja pela fronteira de Berlim, partindo da rua Bernauer Strasse --onde fica hoje o Memorial do Muro de Berlim-- e passando pelas cercas que dividiam as antigas Alemanha Ocidental e Oriental.
O que pode ser visto hoje no local são apenas ruínas do Muro e da faixa chamada "terra de ninguém" (o terreno vigiado entre os dois Estados alemães na época da divisão). São fragmentos que não traduzem todo o sofrimento e o medo pelo qual passaram várias gerações. A animação desenvolvida pela Deutsche Welle revisita esse capítulo da história com precisão.
Historiadores e produtores de televisão trabalharam em conjunto para reconstruir a fronteira como era no começo dos anos 1980. Na viagem virtual, é possível ver esta faixa de terra por ângulos até então desconhecidos.
Experiência virtual
"Nós queremos que as pessoas vejam como sofremos em Berlim, e também na fronteira entre a República Democrática da Alemanha e a República Federal da Alemanha", disse Erik Bettermann, diretor geral da Deutsche Welle. Christoph Lanz, diretor da DW-TV, ressalta que o formato do vídeo, em alta definição, é particularmente interessante para as gerações mais novas --para quem a Alemanha dividida é apenas uma história distante.
Para recriar a fronteira em seus detalhes, os designers compuseram mais de 130 mil gráficos baseados nos modelos históricos. Os computadores levaram mais de 100 mil horas para processar os dados em alta definição. Cada objeto do vídeo foi elaborado a partir de polígonos --mais de 500 mil foram usados para recriar virtualmente a Igreja da Reconciliação em Berlim, por exemplo.
Graças a esse árduo trabalho de animação, é possível viver a experiência virtual de passar pela fronteira, disse Axel Klausmeier, diretor da Fundação Muro de Berlim. Cerca de 300 mil turistas que visitam o memorial na rua Bernauer Strasse por ano e, agora, eles poderão ver a história sob um outro ponto de vista.
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